Curadoria: Danilo Penteado
Boa noite pessoal, semana passada tivemos um hiato, mas estamos de volta. O convidado desse mês é o multi instrumentista e compositor *Danilo Penteado*. Ele desenvolve e participa de diversos trabalhos muito interessantes, como a Orquestra Mundana Refugi, musicou uma letra que o Gilberto Gil que havia feito pra Bethânia em 83 e perdido a melodia, tem também diversas parcerias com o compositor Luiz Tatit, e é integrante do Quatro a Zero, que é o grupo que ele vai apresentar pra gente.
Segue o texto dele:
"Choro Elétrico" é o primeiro album do Quatro a Zero. Foi gravado entre 2003 e 2004, durante sua participação no Prêmio VISA de Música Brasileira, no qual conquistou o segundo lugar. O grupo havia surgido em agosto de 2001 na Unicamp, durante uma aula de Prática Instrumental do professor Paulo Braga (que também me deu aulas de piano importantíssimas na minha formação). A ideia seria tocar choro com uma formação atípica ao gênero: guitarra, baixo elétrico, piano e bateria. Nossa principal rerefência era o Sexteto do Radamés Gnattali (formado por guitarra, baixo, bateria, 2 pianos e acordeon) e nos inspiramos muito pelas ideias musicais que iam além do universo do choro. A primeira pianista do grupo foi a Rosely Maia. Em seguida o Hércules Gomes, durante 2002. O Daniel Muller entrou em 2003 e foi muito importante para o desenvolvimento profissional do grupo, além de ajudar a definir nossa personalidade estética.
Agora falando sobre minha experiência pessoal, este foi meu primeiro grupo de choro. Nunca havia tocado em rodas e nem tinha o repertório básico "nos dedos". Tinha acabado de assistir a uma apresentação do regional onde o Eduardo Lobo tocava violão de 7 cordas e o Lucas da Rosa, pandeiro. Achei incrível a maneira como o Edu improvisava as linhas de baixo (baixarias) e decidi que queria tocar baixo elétrico daquele jeito. Apesar do meu interesse pela linguagem da Música Brasileira, minha principal influência como baixista na época era o Victor Wooten. Em 1998 descobri seu som pelo CD/ livro Bass Extremes e tinha ido fazer um curso com ele em Nashville em 2000 (o primeiro Bass/Nature Camp), onde conheci o Béla Fleck, Jeff Coffin, Future Man, Chuck Rainey, entre outros. Ouvia muito o Béla Fleck & The Flecktones e me identificava com o senso de humor da banda, assim como o humor dos Beatles. Acho que essas influências, raramente declaradas na música instrumental brasileira, foram muito importantes na formação da identidade do Quatro a Zero.
O choro também sempre teve esse lado bem-humorado. Como disse o Maurício Carrilho no texto de apresentação de Choro Elétrico: "Os arranjos, originais e ousados, podem não agradar à ala mais ortodoxa do mundo do choro, mas trazem de volta um elemento muito importante na história do gênero: o humor. Pixinguinha foi um mestre nessa arte. Suas polcas, Marreco que Água, Pula Sapo e, a aqui gravada, O Gato e o Canário, sempre que apresentadas, arrancam sorrisos de adultos e crianças." Além de O Gato e o Canário, minha composição Conta Outra é quase uma piada musical. O Voo da mosca em 7/8, Segura Ele, Baile em Catumby e trechos de Os carioquinhas no Choro também são muito "engraçados". Também utilizamos muitos elementos vindos da "escola" do Hermeto Pascoal, que teve um momento muito fértil no início dos anos 2000, com a criação da Orquestra Família do Itiberê Zwarg e com o André Marques, que tocava e ainda toca com o Hermeto, dando aulas em Tatuí e traduzindo como aquele som era feito. Uma das práticas que veio dessa escola foi o hábito de ensaiar muito. Mas muito mesmo. Horas e horas tocando o mesmo trecho de 4 compassos até conseguirmos chegar no resultado imaginado. Foi uma época de muito crescimento individual e coletivo.
FICHA TÉCNICA
Daniel Muller : Piano, escaleta
Danilo Penteado : Baixo Elétrico, Cavaquinho
Eduardo Lobo : Guitarra, Violão, Bandolin
Lucas da Rosa : Bateria, percussão
PAÍS
Brasil
TIPO DE SOM
Choro
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