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“Cara e Coração”, Moraes Moreira (1977)

  • Foto do escritor: Lucas Bonetti
    Lucas Bonetti
  • há 16 minutos
  • 3 min de leitura

Boa tarde! Hoje trago a segunda indicação de Rodrigo Ornelas aqui no Clube do Som. Boa leitura e boa escuta!


Quero indicar hoje o 2º álbum solo de Moraes Moreira, “Cara e Coração”, de 1977. Escolhi esse porque penso ser, em relação a Moraes, aquele álbum onde o artista chega a um tipo de matriz plena de sua identidade. É no “Cara e Coração” que o artista apresenta os elementos do que poderíamos chamar de um Moraes total, ainda que não estejam todos aqui de modo acabado, claro. O primeiro pós-Novos Baianos, de 1975, já é um grande disco, mas poderíamos dizer que ainda saindo, no gerúndio, com um pé lá - das 12 faixas, 8 são de Moraes e o principal parceiro nas outras é ainda Luiz Galvão, como nos NB. Também em 1977 os NB lançam o primeiro e único disco totalmente sem Moraes ("Praga de Baiano").
“Cara e Coração” tem 4 canções de Moraes, nas quais vejo uma maturidade como letrista (o que nos NB cabia sobretudo a Galvão), destacadamente em “Acordei”. Isso ocorre também nas parcerias com Armandinho Macêdo (“Yogue de ouvido” e “Davilicença”), Moraes como poeta, nas quais duas inventividades características colocam-se plenamente: a poética do texto, nas imagens evocadas, e uma poética do som, levando para o texto um "batuque" que é marca do seu violão. Há no disco a guitarra e o bandolim, samba e rock, mas com um “molho” mais Moraes Moreira, tal como o reconhecemos historicamente. Há também outras novas parcerias – com Chacal (“Meiufiu”) e Rogério Duarte (“Samba da Bahia de Todos os Santos”).
Um dos pontos mais importantes do disco é a marca do Moraes "cantor de trio", coisa que não havia até 1976. É Moraes quem começa a cantar no trio elétrico de Dodô e Osmar e o marco disso é uma canção, faixa 2 de “Cara e Coração”: “Pombo correio” era a música “Double Morse” da dupla, composta em 1952, brincando com o código Morse (referido na famosa introdução) junto ao passo dobrado da marchinha de carnaval (como o pasodoble), e na qual Moraes, pegando a ideia da “mensagem”, coloca letra 24 anos depois. O Moraes Carnaval Moreira se coloca neste álbum; para se realizar a partir daqui, em, p. ex, “Lá vem o Brasil descendo a ladeira”, de 1979, quando aparecem os clássicos com Antônio Risério (“Eu sou o carnaval” e “Assim pintou Moçambique”), unindo a “turma do frevo” à sonoridade afrobaiana (e que entendo como a antessala da Axé Music) – além da igualmente icônica “Chão da praça”, parceria com Fausto Nilo. O álbum tem ainda uma regravação de “Às três da manhã”, de 1946 de Herivelto Martins. Ela fala de um sambista que lutou a guerra e foi para o carnaval com a expectativa de arrebatar o povo, mas não encontrou a resposta que esperava: “Hoje existe um sambista magoado/ Um apito guardado/ E um coração ferido/ Foi pracinha e voltou com glória/ Queria tomar parte no carnaval da vitória”.
Completa as observações importantes sobre o álbum a sua banda base: Dadi Carvalho no baixo (ex-NB), seu irmão Mú nos teclados, Gustavo Schroeter na bateria e Armandinho na guitarra e bandolim. Esse grupo formaria A Cor do Som, lançando seu primeiro disco no mesmo ano de 1977.

FICHA TÉCNICA

Moraes Moreira: violão

Armandinho: guitarra, craviola, bandolins

Haroldo: bandolins

Dadi: baixo

Mú: teclado/piano

Gustavo: bateria

Tuzé: flauta e sax

Eneas: bateria

Joãosinho: tumbas, timbales e triângulo


Produção: Guto Graça Mello

Arranjos: Moraes e Armandinho


PAÍS

Brasil


TIPO DE SOM

MPB


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